A descer as escadas voava em lances de quatro até ao fim do
patamar sem medo.
A casa da mãe de onde víamos o castelo dos Mouros.
A casa da mãe de onde víamos o castelo dos Mouros.
Hoje está lá em baixo
a ambulância sem luzes com gente dentro outra vez, gente pequena a mexer-se com a ginástica
das larvas para um espaço tão
- sabes, é que eu nunca
- sabes, é que eu nunca
Mas desta vez não és tu na marquesa.
Eu a descer os lances aos quatro porque é a mãe que vai lá dentro:
e não tu. É a mãe.
O meu corpo a querer voar e a gravidade a permitir a queda, eu a contornar a queda com os ossos dentro do corpo e com a minha pele toda em cima de mim
- a voar aos quatro e a contar
O meu corpo a querer voar e a gravidade a permitir a queda, eu a contornar a queda com os ossos dentro do corpo e com a minha pele toda em cima de mim
- a voar aos quatro e a contar
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como quando vinha com os cães à rua com o barulho à nossa volta
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como quando vinha com os cães à rua com o barulho à nossa volta
E tu a vê-la como eu
a estou a ver, agora que cheguei cá abaixo.
A mãe. A mãe deitada na marquesa da ambulância enquanto a reanimavam
à minha frente e tu. A mãe.
A mãe deitada e eles com as máquinas a mexerem-lhe no peito. A mãe sempre disse
que não queria que lhe tocassem se algum dia isto acontecesse.
A porta de casa aberta e o meu corpo a voar sobre os degraus de pedra do prédio quente: as pedras a ferverem debaixo dos pés como se a terra tivesse aquecido comida para comer.
A mãe. A mãe tão deitada.
Eles em cima dela: eles com fios e instrumentos para a trazer à vida e tu ao
meu lado começas a rezar
- Salvé Rainha, Mãe de Misericórdia, Vida, doçura e esperança nossa, Salvé.
- Salvé Rainha, Mãe de Misericórdia,
Tu só rezas.
Tu a começares com um terço na mão e um lenço preto na cabeça sem olhares para mim porque nas tuas mãos
- Salvé Rainha, Mãe de Misericórdia , Vida, doçura e esperança nossa, Salvé.
A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva, a Vós suspiramos, gemendo e chorando neste Vale de Lágrimas
Tu a começares com um terço na mão e um lenço preto na cabeça sem olhares para mim porque nas tuas mãos
- Salvé Rainha, Mãe de Misericórdia , Vida, doçura e esperança nossa, Salvé.
A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva, a Vós suspiramos, gemendo e chorando neste Vale de Lágrimas
Tu, avó, a veres o mesmo que eu:
o médico, o assistente, mais alguém a quem não consigo ver a cara a mexerem na mãe para lhe darem vida: como tu na tua barriga, um dia
- Eia, pois, advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei: e depois do desterro, depois do desterro
o médico, o assistente, mais alguém a quem não consigo ver a cara a mexerem na mãe para lhe darem vida: como tu na tua barriga, um dia
- Eia, pois, advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei: e depois do desterro, depois do desterro
Tu sem falares comigo à porta da ambulância - lado a lado - e eu a sentir
uma boca minha a gritar: porque eu tinha mais bocas ao mesmo tempo na
cara, não era só esta
-depois do desterro
-depois do desterro
Tu a repetires o desterro.
Depois do
D
E
S
T
E
R
R
O
R
O
Talvez só fizesses isso porque te vias a vê-la ir como eu: mas os nossos desesperos são diferentes
- depois do desterro mostrai-nos Jesus
Tu e eu a vermos a mesma coisa:
ou tu não, tu só a virares os olhos para as contas do teu terço, enquanto eu
- Mostrai-nos Jesus,
Bendito fruto do Vosso Ventre :Ó Clemente, Ó Piedosa, Ó Doce Sempre Virgem Maria.
ou tu não, tu só a virares os olhos para as contas do teu terço, enquanto eu
- Mostrai-nos Jesus,
Bendito fruto do Vosso Ventre :Ó Clemente, Ó Piedosa, Ó Doce Sempre Virgem Maria.
E eu também a querer dizer como tu
- Ó Clemente, Ó Piedosa, Ó Doce Sempre Virgem Maria.
- Ó Clemente, Ó Piedosa, Ó Doce Sempre Virgem Maria.
Mas as
minhas bocas não me deixavam falar
- Rogai por nós Santa Mãe de Deus,
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
- Rogai por nós Santa Mãe de Deus,
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
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