Querida Avó,
Não voltas, avó. Algo
me diz que não voltas à minha cama.
Há por isso caminho, avó, caminho. Tenho saltos a dar e preciso viver a atracção imensa que o abismo exerce sobre mim: talvez porque eu também seja parte desse abismo, desse buraco imenso lá em baixo a ver-me.
Sei que não tenho mais casaco com capuz, nem botas ortopédicas nos pés, nem a mãe me arranjou mais o cabelo. O tempo soube substituir essa menina contigo na escada – sempre tão cheia de energia, sempre com tanta vontade de saltar que tu tentavas controlar - por uma mulher de saltos altos a sentir o chão como parte do seu corpo: do seu corpo.
Do meu corpo, avó, a gigantesca continuação dos meus braços, das minhas pernas, dos meus pés, ainda que feitos de terra batida, de terra seca. A terra de um imenso, negro e intenso abismo.
Palavras sentidas pela pena brilhante de uma grande escritora portuguesa já com créditos firmados - Inês Leitão.
ResponderEliminarque saudades :)
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