Às vezes só a minha cara é triste,
porque o meu nariz e a minha boca não são.
Às vezes só a minha cara é que é triste,
porque as unhas,
o pescoço quase flácido de tempo
e as minhas mãos: nenhum deles se deixa entristecer.
Às vezes só os meus pés: tristes,
porque a pele e as pernas que vão dar aos pés não aceitam a tristeza que lhes querem dar.
Às vezes só a minha orelha esquerda é triste,
pelo que ouve na rua
e o que ouve torna-se um problema para a boca na minha cara que deixa de querer falar,
porque deixa de querer ser a minha boca.
E assim a boca da cara diz-me que só se abrirá por mais um dia,
(não sabe se para falar ou só para abrir os lábios já colados pelo tempo doce da amargura)
- só mais um dia, nessa tentativa de pronúncia
um dia, longe
para entrarem os bichos debaixo da terra
e ela se deixar ir com eles.
Lindo poema!
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