segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Da boca e do medo



não sei como podemos ser todas as palavras que dizemos,
(as palavras que nos saem de entre os dentes)
mas sei que se tocar os meus lábios
elas às vezes são a minha boca: o que eu não sabia ser.


(um dia podes não vir a poder comigo - com o meu peso tão imenso,
tão grande: eu menti quando disse que era pluma)


vou contar pelos dedos as vezes em que as palavras me saíram pela boca sem que eu notasse,
(em que as palavras me fugiram vestidas de outras pessoas,
de entre os dentes, transitadas pelas gengivas, a tocar o céu da boca)


pela língua, comigo a vê-las ir,

como se pudessem ser mais do que eu.




Mas eu não tenho medo delas:
eu nunca tive medo de tocar ou de vir a ser boca,
palavra que se fez.




image: Lacombe

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Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença

  ler aqui:  https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/