quinta-feira, 23 de junho de 2016

No dia em que tu morreste



No dia em que tu morreste
o chão abriu-se
e todos os mortos sairam do caixão para procurarem os seus vivos. 


No dia em que tu morreste
 não houve sol
nem chuva,
nem vento porque a terra ficou muda na sua dor. 

No dia em que tu morreste,
nenhum peixe sobreviveu à agua que se tornou veneno nas guelras,
nenhum pássaro sobreviveu  à queda da carne das suas asas
cujas penugens com sangue caiam do céu. 


No dia em que tu morreste
 ninguém cantou, ninguém riu. 

No dia em que tu morreste
 nenhuma mulher foi tocada por nenhum homem na cama,
nenhuma criança foi concebida.



No dia em que tu morreste
era quarta-feira em Lisboa
e o tempo ficou quente no corpo dos homens. 


No dia em que tu morreste
caíram os dedos de todas as crianças 
que brincavam no escorrega no parque
e todas elas choraram os seus dedos no chão . 

No dia em que tu morreste
ninguém voltou para casa porque ninguém sabia aonde ficava  a sua casa


(antes de morreres também eras a minha casa e eu costumava saber onde  ficavas) 


No dia em que tu morreste
o chão abriu-se de verdade:
uma fenda rasgou o norte e o sul
e eu sentei-me para não cair. 


No dia em que tu morreste era Agosto
 mas tudo sabia a inverno e a frio.

No dia em que tu morreste
caíram-me os olhos da cara,
e depois caíram-me as mãos,
 depois os pés. 


No dia em que tu morreste
os lábios dos homens colaram-se
e nunca mais o mundo teve som.


 No dia em que tu morreste
 ninguém fez anos.

 No dia em que tu morreste
 era quarta-feira em Lisboa e
todos os prédios da cidade ruíram juntos.


No dia em que tu morreste, o mundo mudou para sempre.






2 comentários:

  1. Marca de qualidade Inês Leitão (TM)

    Lembro-me de quando o MEC escrevia no se7e (sem sou velho :D)
    dizer dos joy division que se fossem iogurte seriam recomendados pelo mário beja santos (defensor dos consumidores, ainda antes de haver consumidores)

    Eu digo a mesma coisa do que escreves

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  2. Luis, aparece na minha peça "A Mãe". Depois diz-me o que achas.

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Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença

  ler aqui:  https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/