Para J. que é um salmão
A mão dele tem dois dedos mortos por quem me apaixonei.
Dois dedos sem vida
entre os outros que pulsam e ele a saber aceitá-los e a tê-los como parte de si, como
quem tem filhos diferentes sem nada para lhes dar: ele a continuar a amá-los ali.
(os dedos dele são troncos de árvores mortas mas ele não
sabe)
De facto, aquela mão, faz-me
amá-lo mais.
Ele disse-me que era um homem de dedos mortos e eu não me
importei porque a nossa guerra é outra: a do entendimento.
A pior de todas. A feroz.
Ele também é um salmão: um salmão com uma mão.
É um salmão com uma mão de dedos mortos e pés
e uma cabeça que pensa por ela própria e se movimenta por aquilo em que
acredita; eu gosto das guelras dele. Gosto de o ver respirar.
Se eu o perder de vista, vou sentar-me aqui a vê-lo ir, acreditando que nenhum pescador o apanhe e que ele continue, rio acima, de escamas brilhantes, e possa encontrar o que procura.
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