quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Do eterno



Querida S.,


Não andei agarrada a fotos tuas depois da tua morte. Enterramos-te. 

Vieste a falecer um dia depois de eu celebrar um mês de casamento, um dia antes de eu te ter tentado visitar-te.
Fiquei parada na tua entrada, como se o cimento fosse a eterna continuação das minhas pernas e dos meus pés quando o teu irmão me disse que estavas a ter um dia mau.
De facto, ele não disse um dia mau, disse um dia muito muito mau.

Eu não ouvi nem vi o que ele já me dizia com a boca e com o olhar.

Recordo a tua voz e o nosso passado de teenagers nos escuteiros e isso basta-me. Ouvir-te cantar.
É àquela Sónia que eu vou quando quero recordar. 


Vi os teus filhos nesse dia, não faço ideia como sobreviverão sem ti.

Acredito, ainda assim, que terão na memória uma mãe que aguentou o impossível por eles, e com a sabedoria que a vida nos traz, aprendi que é sempre o melhor que fica quando o pior nunca foi terror.

Eu desembaracei a minha dor e estou bem.

(eric lacombe)

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