quarta-feira, 13 de julho de 2016

Dia 18 de julho! Somos Capazes?








 Contamos com Todos!

Des-terra







A descer as escadas voava em lances de quatro até ao fim do patamar sem medo.
A casa da mãe de onde víamos o castelo dos Mouros.


Hoje está lá em baixo a ambulância sem luzes com gente dentro outra vez, gente pequena a mexer-se com a ginástica das larvas para um espaço tão
- sabes, é que eu nunca

Mas desta vez não és tu na marquesa.

Eu a descer os lances aos quatro porque é a mãe que vai lá dentro: e não tu. É a mãe.
O meu corpo a querer voar e a gravidade a permitir a queda, eu a contornar a queda com os ossos dentro do corpo e com a minha pele toda em cima de mim
- a voar aos quatro e a contar

1
2
3
4
 como quando vinha com os cães à rua com o barulho à nossa volta


E tu a vê-la como eu a estou a ver, agora que cheguei cá abaixo.


A mãe. A mãe deitada na marquesa da ambulância enquanto a reanimavam à minha frente e tu. A mãe. 
A mãe deitada e eles com as máquinas a mexerem-lhe no peito. A mãe sempre disse que não queria que lhe tocassem se algum dia isto acontecesse. 

A porta de casa aberta e o meu corpo a voar sobre os degraus de pedra do prédio quente: as pedras a ferverem debaixo dos pés como se a terra tivesse aquecido comida para comer.
A mãe. A mãe tão deitada.

Eles em cima dela: eles com fios e instrumentos para a trazer à vida e tu ao meu lado começas a rezar
- Salvé  Rainha, Mãe de Misericórdia, Vida, doçura e esperança nossa, Salvé.




Tu só rezas.
Tu a começares com um terço na mão e um lenço preto na cabeça sem olhares para mim porque nas tuas mãos
- Salvé  Rainha, Mãe de Misericórdia , Vida, doçura e esperança nossa, Salvé.
A Vós bradamos, os degredados filhos de Eva, a Vós suspiramos, gemendo e chorando  neste Vale de Lágrimas


Tu, avó, a veres o mesmo que eu:
o médico, o assistente, mais alguém a quem não consigo ver a cara a mexerem na mãe para lhe darem vida: como tu na tua barriga, um dia
- Eia, pois, advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos  a nós volvei: e depois do desterro, depois do desterro




Tu sem falares comigo à porta da ambulância - lado a lado - e eu a sentir uma boca minha a gritar:  porque eu tinha mais bocas ao mesmo tempo na cara, não era só esta
-depois do desterro

Tu a repetires o desterro.

Depois do 

D
E
S
T
E
R
R
O

Talvez só fizesses isso porque te vias a vê-la ir como eu: mas os nossos desesperos são diferentes
-
depois do desterro mostrai-nos Jesus




Tu e eu a vermos a mesma coisa:
ou tu não, tu só a virares os olhos para as contas do teu terço, enquanto eu
-
Mostrai-nos Jesus,
Bendito fruto do Vosso Ventre :Ó Clemente, Ó Piedosa, Ó Doce Sempre Virgem Maria. 


E eu também a querer dizer como tu
- Ó Clemente, Ó Piedosa, Ó Doce Sempre Virgem Maria. 



Mas as minhas bocas não me deixavam falar
- Rogai por nós Santa Mãe de Deus,
Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença

  ler aqui:  https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/