sábado, 5 de janeiro de 2013

Não há alfabeto






Há muito tempo que não vinha aqui.
A tua estrada fala comigo e diz-me que cheguei. Ela conhece os passos e as mãos que tremem: eu cheguei.
A tua casa já não tem cortinas verdes: o antigo verde deu lugar ao preto e as persianas descidas fazem-me ter vontade de lhes contar os buracos, tão similar às balas que nos atingiram. Todos os dias os buracos das balas me doem. E a dor não tem idade.


 Contar os meus buracos no corpo ajuda-me a sobreviver melhor: o medo pelo esquecimento  faz-me  comer os meus próprios dedos ou ganhar desejo de rasgar a boca com as minhas duas mãos, numa única forma de força, silenciosamente, de um lado ao outro do rosto.
A paz regressa ao corpo e tudo acaba.


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