sexta-feira, 12 de julho de 2019

Das flores na boca







Já não somos os mesmos:
se olhares para nós no espelho tu já não estás ao meu lado
e os teus olhos são agora vermelhos.
Perdeste a cor castanho de cometa que fazia os meus brilharem também.



Já não somos os mesmos,
nem somos juntos, nem mesmo perto
e não há nada a fazer se não chorar de joelhos no sepulcro do tempo
- é lá que  vocês dormem, dizem-me os peixes.

 Gostava de poder chorar, mas não consigo explicar isto tudo aos meus olhos.
Se compreendidas as razões e os meus olhos começassem
 iriamos os quatro na corrente:  o choro daria um rio e mal nos aguentaríamos de mãos dadas na água que nos arrastaria
- assistiríamos à nossa morte outra vez.



Já não somos os mesmos,
não temos a mesma língua, o mesmo estomago,
a mesma promessa de eternidade:
já nada nos liga, só o lugar da morte.


Já não somos os mesmos.
Mas isso é só mais um fim
 e, se atentarmos bem, até a morte
tem beleza de flor.

Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença

  ler aqui:  https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/