17 de julho de 1897
A V. escreveu-me a dizer que passou o mesmo que eu. Que percebe.
Não sei se ela se sentou como eu, na cama, com um vazio imenso dentro dela.
Eu nunca quis que chamassem ninguém mas precisei de ouvir a voz da minha irmã para que, de alguma forma, pudesse perceber que eu própria tinha de saber-me viva. De alguma forma, curiosamente, é sempre ela.
Isto não era bem só um vazio, era uma espécie de vazio gelado de um inverno rigoroso que queima tudo à sua volta.
Também não sei se os médicos dela foram tão generosos como aqueles que eu encontrei a olhar por cima de mim, enquanto eu chorava sem saber como não parecer tão vulnerável - tão frágil como nunca quis ser.
Afogo-me em trabalho porque o trabalho redime e salva e, de alguma forma, apesar de tanto amor que recebo, sei que preciso de ser salva, e esse trabalho de casa também é meu.
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