sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Chelsea Hotel

Debaixo do meu corpo vive uma mulher.



Debaixo do meu corpo vive uma mulher magra de 35 kilos.

Debaixo do meu corpo encolhe-se entre os meus órgãos uma mulher de pernas pequenas que estreita magreza pelos braços até às mãos.

Debaixo do meu corpo vive uma mulher de meia idade, de olhos grandes e azuis de vazio,
sem sobrancelhas feitas de pêlos ou de desenhos a lápis.

Debaixo do meu corpo vive uma mulher sem seios
(dois altos de pele murcha à laia de figo mastigado)




sem sexo
(apenas uma curva de corpo ausente de pêlo ou fenda)




e sem mundo
ardente do cheiro das coisas
a morrer dentro da sua cabeça.


Debaixo do meu corpo vive uma mulher que não come, não bebe
e é amplamente calva na unidade que é a sua pele.

Debaixo do meu corpo vive uma mulher.
Gosto de chamar-lhe Lídia.





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Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença

  ler aqui:  https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/