quinta-feira, 23 de agosto de 2012
Plantar palavras na boca
Não sobrou nada aqui, avó.
Não há sequer a madeira encarquilhada da tua casa, a oliveira dentro da sala, o meu baloiço-pneu que me erguia aos céus se esticasse bem as pernas, se esticasse com força, como os grandes, e como os grandes não te vi nas ruas de Mangualde: tu, uma mulher de lenço preto, surda e de olhos cinzentos de idade.
É que morreram todos, avó: as primas, o chapeleiro, o padeiro, a Mariazinha e sua filha e a tua rua é agora parqueada, como se tivessemos que pagar para existir dentro daquilo que é nosso, dentro daquilo que trazemos cá dentro.
É que nem sobrámos nós, avó. Não fomos as mesmas a voltar para uma Lisboa gigante que nos conforta no anonimato. Porque nós não nos achámos lá.
Eu não estava no teu quintal a ver as galinhas picarem-me as pernas sem que me desviasse, sem que soubesse que existem dores que não precisamos padecer, e que com quatro anos, ainda não temos de sofrer pela remissão dos nossos pecados.
Eu padecia até que alguém chegasse.
A mãe está parecida contigo.
E eu não encontrei ninguém que pudesse ser eu.
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Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença
ler aqui: https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/
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INÊS LEITÃO nasceu a 1 de Julho de 1981 em Lisboa. É licenciada em Estudos Anglo- Americanos pela Faculdade de Letras da Univer...
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porque eu já não sei escrever. -as minhas unhas, os meus dedos, a minha boca já não sabem escrever. já não sei escrever. -os meus olhos,...
Lindo, sentido e muito nostálgico. Adorei. Beijos com carinho
ResponderEliminarObrigada, Rosa-branca :)
EliminarEmocionante. Pungente. Belo.
ResponderEliminarObrigada, Dulce! :)
Eliminarmissivas etéreas... mais seguras do que qualquer serviço postal neste planeta.
ResponderEliminarsaudades*
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