quarta-feira, 31 de julho de 2013
Indulgência (I)
Eu era um corpo numa cama.
Eu era um corpo numa cama
e debaixo dos cobertores sentia o peso das mãos
e dos pés e o barulho do cabelo a nascer.
Tinha olhos e pestanas
- ou não tinha nem olhos nem pestanas
mas os lábios tocavam um no outro
escondiam as gengivas e às vezes
ficavam escondidos os dentes de cima e os de baixo.
[eu nunca soube do que é que eles se escondiam:nunca perguntei]
Debaixo dos cobertores
descobri que o mundo não era para mim
e eu sabia
e fechava os olhos a saber.
Também sabia do peso das mãos e dos pés
e do cabelo a nascer.
Debaixo dos cobertores
logo depois em surdina
vinha a morte. E a morte não comia
nem bebia
nem dormia
nem gostava de cobertores com gente debaixo.
A morte sem gengivas,
e sem lábios
nunca tem medo: sempre traz no seu corpo um cheiro amargo
a caminho e a destruição.
domingo, 21 de julho de 2013
O meu amor vem dos ossos
(Eric Lacombe)
O meu amor vem dos ossos;
não tem fidalguia
nem respira o cheiro da prata
porque o meu amor é impuro.
O meu amor não é dia
porque é tempo; e nele não existem horas,
nem minutos, nem segundos:
o meu amor é um tempo no mundo que rejeita a música dos ponteiros.
O meu amor cresce para dentro
e a única coisa que deseja profundamente é o teu corpo
e tudo o que existe depois dele.
O meu amor é um sentido
(como o cheiro ou o tacto)
e nunca será um erro:
ele constitui-se como propriedade privada
sem direito de herança.
O meu amor vem dos ossos
e é tempo
e medo
e flores a crescer dentro da cara:
mas às vezes o meu amor também é noite escura.
E aí, só aí,
sabe fazer ranger todas as pedras do mundo.
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Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença
ler aqui: https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/
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INÊS LEITÃO nasceu a 1 de Julho de 1981 em Lisboa. É licenciada em Estudos Anglo- Americanos pela Faculdade de Letras da Univer...
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ler aqui: https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/
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porque eu já não sei escrever. -as minhas unhas, os meus dedos, a minha boca já não sabem escrever. já não sei escrever. -os meus olhos,...