quarta-feira, 31 de julho de 2013
Indulgência (I)
Eu era um corpo numa cama.
Eu era um corpo numa cama
e debaixo dos cobertores sentia o peso das mãos
e dos pés e o barulho do cabelo a nascer.
Tinha olhos e pestanas
- ou não tinha nem olhos nem pestanas
mas os lábios tocavam um no outro
escondiam as gengivas e às vezes
ficavam escondidos os dentes de cima e os de baixo.
[eu nunca soube do que é que eles se escondiam:nunca perguntei]
Debaixo dos cobertores
descobri que o mundo não era para mim
e eu sabia
e fechava os olhos a saber.
Também sabia do peso das mãos e dos pés
e do cabelo a nascer.
Debaixo dos cobertores
logo depois em surdina
vinha a morte. E a morte não comia
nem bebia
nem dormia
nem gostava de cobertores com gente debaixo.
A morte sem gengivas,
e sem lábios
nunca tem medo: sempre traz no seu corpo um cheiro amargo
a caminho e a destruição.
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Gostei muito. Fantástico! Beijinho
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