quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Da espera dos outros


Para o meu irmão L. que me ensina coisas bonitas




Um dia aprendemos a esperar. Ficamos à porta de uma casa e esperamos. Sabemos que a pessoa que queremos está lá dentro e ouviu-nos tocar.
Tocamos: ela sabe-nos ali.
Pode fingir e não querer abrir, mas sabe que estamos do outro lado da porta: com a cabeça, com os braços, com as pernas que nos sobram de um amor. Esperamos.
 
Esperamos porque o amor sempre nos deixa com o nosso corpo.
 Esperamos assim que alguém abra a porta. Que a pessoa que está do outro lado nos queira e venha; esperamos que ela  nos deixe entrar porque é só isso que queremos afinal; não pedimos mais nada, só queremos entrar.

Não voltamos a tocar porque quem espera não insiste , mas encostamos a cabeça à porta. Continuamos. Esperamos. 


Podemos até sentar-nos no chão à espera.
Esperamos fora do imediato porque aprendemos que as pessoas têm tempo dentro delas, desajustado dos nossos relógios de pulso, do nosso.
Espera-se que a porta abra, depois espera-se que ela abra o suficiente para vermos a pessoa que queremos; esperamos um pouco mais para que a sua abertura total permita a entrada do nosso corpo e nos inclua.

 Esperamos, numa última etapa, finalmente, que a porta  se feche atrás de nós:  gostamos do barulho da porta que se fecha. Por trás.

Mas esperamos.
E a espera é grandiosa.




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Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença

  ler aqui:  https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/