Querido L.,
hoje fazem-te uma traqueostomia.
Vão manter-te na letargia do coma na esperança que dês um duplo mortal e saias dessa pneumonia que te está a matar.
Tenho-te mandado emails diariamente na insana ideia que os possas ler quando saíres desse limbo humano em que nos colocam quando não estamos nem vivos nem mortos, mas esperamos a vida.
Sabes, desde que o Pe. João morreu percebi que isto de perdermos amigos é para toda a vida e eu não vou ter muitos mais amigos que me sobrem .
O tempo ensinou-me a selecionar a malta que ponho em casa e no coração.
Preciso mesmo de ter-te à distância de um email: para te contar e confidenciar a vida toda. Supostamente íamos ser assim até eu morrer. Eu.
Eu e não tu.
Até já,
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