quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Bacia de sedimentação

(para a minha avó)




O Inverno trouxe osteoporose às árvores. Elas, magras e tristes, arranjam as unhas no jardim tentando esquecer a morte.

A de dedos,
B de boca 
C de morte


quando as árvores do jardim da minha casa sentem a morte, pedem licença para se irem deitar


A de sombra,
B de dor
C de sorte

- foi com  a avó que eu descobri que as senhoras do cemitério do Benfica se deitam todas à mesma
hora, que nenhuma das que ali mora sente medo do escuro ou se deita depois da novela.
 A avó dizia que as árvores do cemitério dançam com o vento às escondidas e que pintam os

lábios de vermelho antes das nove horas da manhã: querem estar bonitas para os que ali chegam desconsolados.

Hoje, a única coisa que duvido, é que tu te deites à mesma hora que os outros.



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