Eu não queria que ninguém se aproximasse de mim no comboio, que ninguém me tocasse, que ninguém me mexesse na saia. Não, certificar-me que não há ninguém em pé atrás de mim, ninguém em pé à minha frente. O comboio é um sítio pequeno e apertado onde as pessoas dançam agarradas ao tecto
- não, eu não queria estar agarrada a ninguém, só ao tecto
sempre admirei a firmeza calma dos tectos brancos em cima de mim
- só o tecto, sem tocar nada
enquanto o comboio nos faz dançar
-só ele
Quando tenho medo o meu nariz sangra. Eu não gosto de sangue. Eu não danço agarrada aos outros enquanto o comboio anda para o meu nariz não sangrar mais.
Só o tecto. Eu e ele.O nariz a pingar pequenas gotas quentes: o sangue a surgir em motivos de flor na minha saia nova. Curtos desenhos a pintarem a minha saia, perto da pele.
Eu nunca tinha visto tanto sangue junto na mesma saia.
Eu nunca tinha visto o mar.
terça-feira, 21 de fevereiro de 2012
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Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença
ler aqui: https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/
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INÊS LEITÃO nasceu a 1 de Julho de 1981 em Lisboa. É licenciada em Estudos Anglo- Americanos pela Faculdade de Letras da Univer...
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porque eu já não sei escrever. -as minhas unhas, os meus dedos, a minha boca já não sabem escrever. já não sei escrever. -os meus olhos,...
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