domingo, 26 de fevereiro de 2012

A nossa poesia

A nossa poesia não tem espinhas no peixe nem cabelos na boca: a nossa poesia é a poesia da verdade.
A nossa poesia não se compadece com a dor nem com o acrilíco, porque a nossa poesia é feita do luto desenvergonhado e do amor que faz os dentes ranger.
A nossa poesia não desaba com obstáculos, a nossa poesia é visionária e sabe o que o futuro diz de nós quando se esconde debaixo da nossa cama para nos ver melhor
(a nossa poesia sabe que nos observam numa base diária)

A nossa poesia é a poesia do nariz colado e a dos olhos fechados: a nossa poesia molha o pão com manteiga no galão quente de manhã ao pequeno-almoço.

A nossa poesia é desavergonhada, anda nua pela casa e tem medo; e diz a toda a gente para sair da frente quando passamos: a nossa poesia é tirana, tem seios perfeitos e às vezes toma comprimidos para dormir quando os nossos olhos observam um tecto demasiado escuro para ser tudo de verdade.

A nossa poesia gosta de nos afogar na banheira até nos privar de respiração, e suporta o nosso corpo imediatamente até à superficie só para nos lembrar que estamos vivos.

A nossa poesia põe-nos a mesa de manhã e compra bolas de berlim mal cozidas
(nossa poesia é uma bola de berlim da praia das Maçãs quando tínhamos 5 anos)

A nossa poesia aconchega-nos à noite porque a nossa poesia não é a poesia da academia, nem dos sonetos, nem das elégias:
a nossa poesia é a poesia da nudez, é a poesia do amor ardente,
que nos desfaz os dentes e nos deixa doentes.










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Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença

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