Já há tanto tempo que não mordia as minhas mãos para expiar a minha culpa. Morder a mão até a marca dos dedos poder ser moldada a gesso ou testada por nova colocação da mandíbula
- de forma doce e terna
e ali confirmar tamanho e forma sem a pressão da força bruta.
Já há tanto tempo que não mordia as minhas mãos, a carne gorda da curva do polegar ou o seu osso,
para aquele que é o momento da libertação da minha angústia e do meu medo: as minhas marcas.
Já há tanto tempo que não sentia o alívio que nasce dos meus dentes, a liberdade depois da aflição,
a cura do erro e da culpa.
Já há tanto tempo que não mordia as minhas mãos para expiar a minha culpa.
sábado, 17 de março de 2012
quarta-feira, 14 de março de 2012
Do corpo e de outros mundos
O que é que vais dizer ao meu corpo
quando o vires aberto diante de ti
no silêncio do desejo?
Que palavras vais dirigir ao meu corpo
quando o analisares desprotegido e sem roupa?
Que sons sairão da tua boca
e que parte do teu corpo servirá o meu?
Que palavras vais dirigir ao meu corpo
quando o vires quieto e lânguido no teu quarto,
deitado na tua cama, por desossar?
O que é que vais dizer
amanhã
ao meu corpo
em carácter de emergência,
por te teres a ti para salvar.
quando o vires aberto diante de ti
no silêncio do desejo?
Que palavras vais dirigir ao meu corpo
quando o analisares desprotegido e sem roupa?
Que sons sairão da tua boca
e que parte do teu corpo servirá o meu?
Que palavras vais dirigir ao meu corpo
quando o vires quieto e lânguido no teu quarto,
deitado na tua cama, por desossar?
O que é que vais dizer
amanhã
ao meu corpo
em carácter de emergência,
por te teres a ti para salvar.
sexta-feira, 9 de março de 2012
A boca a arder
As minhas mãos ficaram em cima da mesa da pastelaria,
apertando-se,
enroscando-se,
suando o que nos disseste quando saiste
- é o diabo: o diabo a tentar-me o corpo, a vir atrás de mim vestido de pés e mãos e pele de homem
as minhas mãos esquecidas na mesa, as migalhas do bolo,
o chá e os meus olhos a pingarem da cara sem eu querer
- as mãos e os pés do diabo a fazerem-no passar -se por um homem de bem, de gravata, erecto: os olhos do diabo a saberem onde eu estou, o lugar do meu corpo longe da mesa da pastelaria
As minhas mãos esquecidas na mesa imobilizadas pela dor, agarradas uma à outra a tentarem salvar-se, amparadas, como irmãs.
As minhas mãos a acalmarem-se, a pagarem a conta e nós a irmo-nos dali.
Dali.
Para sempre.
apertando-se,
enroscando-se,
suando o que nos disseste quando saiste
- é o diabo: o diabo a tentar-me o corpo, a vir atrás de mim vestido de pés e mãos e pele de homem
as minhas mãos esquecidas na mesa, as migalhas do bolo,
o chá e os meus olhos a pingarem da cara sem eu querer
- as mãos e os pés do diabo a fazerem-no passar -se por um homem de bem, de gravata, erecto: os olhos do diabo a saberem onde eu estou, o lugar do meu corpo longe da mesa da pastelaria
As minhas mãos esquecidas na mesa imobilizadas pela dor, agarradas uma à outra a tentarem salvar-se, amparadas, como irmãs.
As minhas mãos a acalmarem-se, a pagarem a conta e nós a irmo-nos dali.
Dali.
Para sempre.
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Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença
ler aqui: https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/
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INÊS LEITÃO nasceu a 1 de Julho de 1981 em Lisboa. É licenciada em Estudos Anglo- Americanos pela Faculdade de Letras da Univer...
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ler aqui: https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/
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porque eu já não sei escrever. -as minhas unhas, os meus dedos, a minha boca já não sabem escrever. já não sei escrever. -os meus olhos,...