quarta-feira, 16 de julho de 2014
Da dor
Matamos as saudades.
Não as eliminamos, não as apagamos, não as tapamos, nem as sabemos reduzir até à sua inexistência
- são elas que nos reduzem a nós
resta-nos matá-las. Matar. Pegar em armas e matar.
Não sabemos aligeirá-las, não existe pomada nem comprimido que nos liberte: o ideal é matar a saudade toda logo, não permitir que ela respire (tapar-lhe a boca e apertar-lhe o nariz),
nem permitir que ela nos toque: afogá-la ou dar-lhe com uma pá na cabeça para ela cair desfeita no chão e desaparecer-nos dos olhos imediatamente
(a saudade começa-nos nos olhos)
A pá, o crânio desfeito no chão e a ausência rápida de saudade
-sim, a saudade tem um crânio; tem um crânio porque às vezes a saudade é pessoa; e quando é pessoa dói mais e precisamos que ela morra mais rápido ainda
Matá-la. Matar. Matá-la. Até à sua inexistência. Até a saudade não existir mais, nem doer mais, porque a morte da saudade não lhe deixa um corpo e não precisa de enterro.
Mas matá-la, sim, a morte é a única solução.
Quando ela se aproximar, o melhor mesmo é matar.
image: Eric Lacombe
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Do regresso
porque eu já não sei escrever. -as minhas unhas, os meus dedos, a minha boca já não sabem escrever. já não sei escrever. -os meus olhos,...
-
INÊS LEITÃO nasceu a 1 de Julho de 1981 em Lisboa. É licenciada em Estudos Anglo- Americanos pela Faculdade de Letras da Univer...
-
Ter um filho é uma jornada extraordinária e única, mas também dura, com constantes provas de entrega, esforço e superação. Uma das etapas ...
-
Querido bebé J.D., Ao contrário do que aconteceu com a tua irmã, escrevo-te depois de te ter tido. O nosso corpo muda, a nossa cabeça mud...
Sem comentários:
Enviar um comentário