sábado, 3 de dezembro de 2011

O acesso ao meu corpo é feito por palavras

(para a minha tia Maria José com todo o meu amor)



As palavras têm cio. 
As palavras fazem cirúrgias de peito aberto mas não gostam de bisturis. As palavras não competem entre si porque se amam e gostam de se abraçar. As palavras gostam de amálgamas  e as mais abusivas pensam todos os dias em novas formas de violar a sintaxe das frases quando ninguém vê.
As palavras gostam da cabeça de David Mourão-Ferreira e da cabeça de Mia Couto. As palavras gostam da boca de Galeano e têm um amor profundo pela Srª Adília Lopes.
As palavras não atravessam a estrada fora da passadeira e não existe em qualquer parte do mundo uma única palavra preguiçosa.
As palavras gostam de crianças com menos de 5 anos: gostam de ser provadas, experimentadas, comidas docemente como só elas sabem fazer.
As palavras sabem que os acordos ortográficos lhes fazem mal à pele.
As palavras gostam de sonhos e de bocas bonitas com baton. As palavras gostam da palavra baton.
As palavras gostam de imigrantes e de emigrar.
As palavras gostam de moleskines e detestam SMS´s.
As palavras não gostam de erros, da mesma forma como não gostam de vírgulas ou de pontos finais. As palavras detestam abreviaturas e não levam a sério finais de frase. As palavras não gostam de fim ou fins. As palavras acham que os seus plurais são irmãs gémeas com mais uma perna.


As palavras gostam do amor.
As palavras têm vida eterna.

1 comentário:

Do regresso

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