Gosto de ti até ao
ponto onde as coisas secam e morrem.
Eu sou uma mulher pequena sem ouvidos. Os ouvidos não
nasceram no dia em que eu nasci, fiquei à espera que surgissem como cogumelos,
de um lado e de outro, entre a bochecha e o crânio
e todos os dias me chego ao espelho para assistir ao seu nascimento: dia após dia,
dia após dia.
Todos os dias e nada na pele, nada
nenhum contorno de carne, nenhum relevo: tudo é pele e transtorno.
Dias e dias a olhar-me ao espelho com a esperança que um ouvido nascesse onde pertence, seguindo-se-lhe o outro de forma a que as bocas das pessoas que falam a olhar para mim comecem a fazer sentido na minha cabeça, deixando de ser apenas lábios com vida própria
e todos os dias me chego ao espelho para assistir ao seu nascimento: dia após dia,
dia após dia.
Todos os dias e nada na pele, nada
nenhum contorno de carne, nenhum relevo: tudo é pele e transtorno.
Dias e dias a olhar-me ao espelho com a esperança que um ouvido nascesse onde pertence, seguindo-se-lhe o outro de forma a que as bocas das pessoas que falam a olhar para mim comecem a fazer sentido na minha cabeça, deixando de ser apenas lábios com vida própria
(a abrir e a fechar)
- para cima e para baixo, para um lado e para o outro, na confusão da língua
O cabelo tapa a minha falta com a mesma legitimidade dos pêlos debaixo da roupa.
Não tendo ouvidos,
toco a boca,
o nariz
e os olhos
todos os dias com as mãos, com medo que eles se enterrem dentro da cara e eu os perca para sempre.
Gosto de ti até ao ponto onde as coisas secam e morrem.
- para cima e para baixo, para um lado e para o outro, na confusão da língua
O cabelo tapa a minha falta com a mesma legitimidade dos pêlos debaixo da roupa.
Não tendo ouvidos,
toco a boca,
o nariz
e os olhos
todos os dias com as mãos, com medo que eles se enterrem dentro da cara e eu os perca para sempre.
Gosto de ti até ao ponto onde as coisas secam e morrem.
Sem comentários:
Enviar um comentário