domingo, 14 de agosto de 2016

Do que não é


Para J. com todo o meu amor




Tu existias e eu sofria.
Tu respiravas, tu vivias e eu morria.
Tu falavas de mim aos outros e eu sofria.
Tu comias-me e eu sofria. Tu não me comias e eu sofria.
Tu aparecias no meu trabalho com o teu corpo febril  e eu sofria. Tu olhavas-me como quem traz o amor acorrentado aos olhos e eu morria
 - mas morria bem, morria como quem engole a felicidade toda de uma vez e se torna um sapo. 
Eu era um sapo e tu rias.

 Tu existias e eu vivia. Tu rias e eu vivia.

 Mas o tempo das  pedras mudou e todos os gatos cegaram na montanha. O caminho foi refeito.
Os cães ficaram sem dentes, as pessoas sem pernas e a demência não mais se escreve a lápis no quadro da escola: deixou de importar.

A poesia voltou ao mundo.

E a tua boca foi cosida para sempre.
A tua língua nova nunca mais se ouviu.

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Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença

  ler aqui:  https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/