terça-feira, 24 de julho de 2018

Ainda que eu fale a língua dos Homens



Para o meu irmão amado, Luís Arriaga





Impreparados para o abismo roemos os olhos
porque as mãos são agora troncos de árvore no jardim
(o jardim que fica ali depois do vidro que é janela)


- olha lá para fora sem medo: a árvore é só a minha mão a arder



Mordemos as pernas porque os braços
Camille usa no seu mármore: a princesa de Rodin
tão substituída por outras,
tão libertada pelo seu mestre.



E eu podia falar de ti mas tu continuas sem vir porque não és daqui e
eu também já não te espero.



Mas se fosses, se o meu corpo esperasse ainda aqui sentado,
lerias poesia para mim mesmo que surda eu fosse
- a Poesia eu sempre saberei ouvir - ainda que sem ouvidos e olhos para a chorar


Os meus olhos e os meus ouvidos nunca foram nada.
A Poesia sempre me salvou.







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