quinta-feira, 26 de julho de 2018

Dia 6






Podia escrever que te amo na parede do meu quarto
com o dedo indicador como mensageiro

 (as unhas a caírem mortas no chão por saberem o que ai vinha: chamaram-lhe Amor)
até fazer sangue;
e desse sangue mártir saírem todas as letras em linha,
l
e
t
r
a
s
em linha
a  dizerem juntas o que eu devia saber dizer sozinha pela boca
- a minha boca  era uma flor 




Se esse indicador direito fosse morto pela prova do meu amor por ti
outro indicador logo  nasceria,
como garante do teu conhecimento sobre a minha afeição.



Esperei 1000 anos por ti
sentada num lugar onde não havia nem chuva,
nem sol,
nem mar,
nem vento ou tempestade: não havia escuridão mas também não havia luz;

eu sempre soube que chegarias até ao dia em que te vi.



Vieste.

O meu corpo do avesso a ver-te ao longe:
a chegada a dar-se.

- o teu cheiro amado e imaginado.



Esperei por ti no meu corpo 1000 anos,
voltaria a esperar por ti por mais 1000.




Image: Eric Lacombe



1 comentário:

Do regresso

  porque eu já não sei escrever. -as minhas unhas, os meus dedos, a minha boca já não sabem escrever.   já não sei escrever. -os meus olhos,...