segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Da linha que Haterly bordava







1+1= 2
 No dia em que Haterly morreu não comemos cogumelos fritos no sofá, nem dormimos no meio de gatos com pele de cinza e olhos de sol aflitos em calor branco.

5-7= tempo
No dia em que Haterly morreu não fomos ao sushi.

1+3=oquemeapetecer
No dia em que Haterly morreu, Lisboa acordou quente como um vulcão sem mãe e sem pai e nós não nos beijámos mais. Nunca mais. Nunca mais ao ponto de eu não saber onde ficam os teus lábios nem tu saberes onde ficam os meus
(como no escuro).



Nunca de nunca. Nunca de tempo.





2-2= 0
No dia em que Haterly morreu eu descobri que tu morreste afogado na água quente daquele país que vem no mapa e se marca a azul.

2-2= 0??
 No dia em que Haterly morreu eu vi-te afogar.

2-2=0 ????
No dia em que Haterly morreu eu vi que não bateste as pernas para te salvares, nem gritaste. No dia em que Haterly morreu eu vi que não pediste socorro enquanto te afogavas porque não querias ser salvo.
Olhavas para mim e eu olhava para ti. E era.

2-2=0 ???????????????
No dia em que Haterly morreu nenhum de nós quis ajuda para se salvar.
Queríamos saber  até onde aguentávamos sem respirar.


3+3=6
No dia em que Haterly morreu eu deixei de saber beijar porque os meus lábios cairam-me ao chão como duas próteses bonitas de carne e partiram como a loiça da avó.


No dia em que Haterly morreu, os meus lábios partiram.
No dia em que Haterly morreu eu sonhei que era a avó.


image: Eric Lacombe




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Entrevista - Alentejo Calling - Rádio Renascença

  ler aqui:  https://rr.sapo.pt/noticia/pais/2024/09/24/migrantes-ajudam-a-construir-um-alentejo-absolutamente-novo-e-povoado/394895/