quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Do mundo e das coisas




Não cabemos na ausência, não sabemos da dor debaixo da cama.
Não sabemos da desordem porque não sabemos das feridas nos pés, nem do cheiro que o medo tem quando o abafamos debaixo da almofada depois de dias e dias a ouvi-lo gemer ao ouvido
- só queríamos que morresse, que parasse

só sabemos errar porque conhecemos mal as nossas mãos.

Não sabemos do corpo porque o escondemos dos olhos, não sabemos do céu porque o renegámos com a boca toda. Não sabemos do mar porque foi levado pelos homens
 mas também não sabemos de nós
- o que é que tu sabes de mim, afinal?



Não sabemos das flores que nascem dos olhos; não sabemos da gramagem do peso da roupa que trazemos quando, nus, nos apresentamos no centro da Terra para a recolha do mundo
- olha aqui, os ossos


Não sabemos das paredes e do tijolo porque conhecemos pelo nome as pestanas dos teus olhos; não sabemos da confusão porque começámos a respirar pelo mesmo corpo; o silêncio.
- o silêncio a crescer-nos nos braços e tu a ires por teres de ir


Não sabemos que os últimos são os primeiros, não sabemos contar sem ajuda dos fios do cabelo, nem com os dedos das mãos coladas
- há um fim para todas as coisas com nome mas nós não temos nome



Não sabemos se bordamos a boca a linha branca ou preta; não sabemos se depois da morte os corpos não deveriam manter os olhos abertos,  para nos verem, abertos, para sempre.










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